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Mostrando postagens de 2021

Quarentena, ano 2: vivendo com força a distopia

  Por Daniela Martins Quando me mudei para Brasília, em janeiro de 2010, havia um clima de alegria no ar, era inegável. O Brasil vivia tempos de mudança social intensa e de muita esperança no futuro.  Na rampa do Congresso Nacional, que visitei com meus filhos ainda bem pequenos naquela ocasião, alguém havia deixado um recado escrito com batom vermelho: “Valeu, Lula!”.  Fiquei encantada com aquela irreverência, com aqueles palácios da Praça dos Três Poderes, tão importantes, todos sem muros ou grades, com os garotos descendo as laterais do gramado em folhas de papelão.  Um ano depois, o país elegia a primeira mulher para a Presidência da República. Nós comemoramos, rodamos a cidade acompanhando o buzinaço alegre dos carros. Eu realmente acreditava que meus filhos veriam um país muito diferente do Brasil da ditadura em que eu cresci.  Essa certeza começou a mudar com aquele processo vergonhoso de impeachment da Dilma.  A foto que ilustra este post eu tirei num protesto em maio de 2017.

QUARENTENA, ANO 2 - É verdade esse bilete

Por Daniela Martins Desci depois da chuva para ir até a farmácia e acabei dando uma volta no quarteirão. Depois de dias sem colocar o nariz pra fora de casa, é preciso esticar as pernas. Quando dobrei a esquina da Itambé, vinha subindo um catador, desses que recolhem papelão nas ruas, puxando sua carroça. A carroça era um acontecimento: caixa de som com um rock nas alturas e uma bandeira dos EUA hasteada, orgulhosa. Até agora tento compreender a cena... Um novo “empreendedor” de si mesmo? Um trumpista tropical? Um trabalhador desiludido com seu próprio país? Um amante do rock? Um nascido em 4 de julho? Não era mesmo fácil de entender. Mas tá todo mundo meio louco, nem convém ficar buscando sentido nas coisas atualmente. O dia já não tinha sido fácil. O sociopata que ocupa a Presidência havia implementado uma reforma esquisita e trocado seis ministros, entre eles o da Defesa. Na esteira dessa demissão, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica colocaram seus cargos à

QUARENTENA, ANO 2 - Meu encontro com o Mestre dos Magos

  Por Daniela Martins As praias estão novamente desertas, as lojas fechadas, tudo exatamente como há um ano.  Em março de 2020 o Brasil tinha 165 mortos. No total.  Em março de 2021 os mortos passam de 3 mil. Por dia. A sensação é de que estamos vivendo em um looping  que piora a cada volta. Em progressão geométrica. O cenário atual não é bom no mundo inteiro, a pandemia vem e vai em ondas, obrigando os governos a adotar medidas de isolamento e a acelerar a vacinação de suas populações. No Brasil, o quadro é desolador, porque o presidente da República se recusa a liderar as ações de combate à doença. Pressionado pelo escandaloso número de 300 mil cidadãos mortos, ele se viu obrigado a fazer um pronunciamento à nação ontem à noite. Além de despejar sua costumeira cascata de mentiras, como afirmar que sempre defendeu a compra de vacinas, ele finalmente se solidarizou com a dor das famílias que perderam parentes para a doença. Depois de um ano. Depois de 300 mil mortos. Depois de t

QUARENTENA, ANO 2 - Já é Natal no Leblon!

Por Daniela Martins Quando fugi do Rio, lá pelos idos de 2010, prometi que só visitaria a cidade durante o inverno. Cumpri a promessa à risca durante a década seguinte, até que quebrei meus votos por amor. Sim, os apaixonados sempre cometem suas loucuras: eis-me no Rio em março, justamente o pior mês. Caminhava pela Ataulfo de Paiva rumo a Ipanema quando reparei que não havia uma única barata pelas calçadas, nem esmagada, nem seca, nem viva. Quase voltei a amar o Rio, mas logo me dei conta de que algo muito errado estava acontecendo.  Jamais, em meus 46 anos, atravessei calçadas cariocas sem topar com uma barata. O Rio sem baratas é tipo a Andressa Urach virando crente: alguma coisa está fora da ordem, é o prenúncio de que vai dar merda. Da Praça Antero de Quental até a Nossa Senhora da Paz, contei mais de 20 pessoas vivendo nas ruas e pedindo ajuda para comprar um prato de comida. A situação geral piorou bastante com a pandemia, impossível não enxergar isso.  Entrei na Casa &Vídeo