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Mostrando postagens de maio, 2020

UM LADO BOM? Eduardo Muylaert

(Fragmento da capa de Paranoia, Roberto Piva, IMS) Por EDUARDO MUYLAERT Nessa hora de pandemia e desgoverno,  quando se ouve até falar em ditadura, não custa lembrar do que acontecia nos terríveis anos de chumbo. Esse conto foi originalmente publicado  em Prêmio Sesc Machado de Assis, 2015. 1.      Quando vieram me buscar eu não estava preparado. Acho que nunca estamos prontos para nada. O amor e a morte, e até algumas coisas bem mais banais, costumam chegar de repente, sem aviso, mesmo quando se sabe que elas são inevitáveis. Pode ser tudo uma questão de tempo; às vezes conseguimos uma prorrogação, como no futebol, mas não dá para fugir do desempate por pênaltis. 2.      Toda pessoa tem um lado bom, mesmo os carrascos. É o que minha avó Mira sempre repetia, quando eu chegava da escola e me queixava de um professor ranzinza ou de um colega provocador. Ao longo da vida, nas situações mais difíceis, ouço a voz doce da Vó Mira sussurrando sua sabedoria

UM SONHO É COMO UM LIVRO

Por EDUARDO MUYLAERT

ZUM

Por RICARDO SILVEIRA O que eu tenho vivido nas telas de reunião. Tenho visto caras que não eram feias e boas almas com sacos lotados. Tenho ouvido gastura. Tenho visto pessoas mais gordas e cenhos mais pesados. Tenho visto sorrisos cansados, que ajudam a cansar o meu, e isso quando há. Tenho visto gente que prefere ficar atrás da cortina do dark ou do mute. Tenho ouvido teses sobre isso, até etiqueta sobre isso já tem, mas não consigo montar uma, a minha, a não ser o fato de ver nesse sumiço uma versão da liberdade de expressão que esta tecnologia da reunião remota nos dá. Tenho visto gente que está ali só a bater seu relógio de ponto. Tenho visto fundos de tela algo engraçados, mas com um humor que não pega brasa, só fumaça, feito lenha orvalhada. Tenho visto decorações pálidas no fundo e faces de ainda maior palidez na frente. Tenho notado mais pontualidade. Meu mundo pré-covid parecia menos atento a ela. Tenho notado que se quer começar logo para acabar com o telefar

FOR A BOTTLE OF RUM AND A YO-HO-HO

Captura de tela do final do show do Alestorm em Tilburg, Holanda, 2019 –Por J MARCELO ALVES O rock'n'roll já é um senhor de mais de 60 anos. Eu quase escrevi "um respeitável senhor", como no cliché, mas não. Não seria rock'n'roll se fosse respeitável. Nessas décadas de idas e vindas, e mesmo estando em baixa ultimamente —não é o gênero musical dominante há muito—, o rock não para de gerar novidades para os muitos fãs de todas as idades ainda espalhados por aí. O rock se subdivide em vários subgêneros e dezenas de subsubgêneros e assim por diante. Roqueiro é bicho que gosta de dividir e classificar, aparentemente. Só dentro do metal, meu subgênero preferido, tem um monte de subtipos: power metal , doom , black , thrash , folk , speed , sinfônico, death , progressivo (mais pesado que seu parente, o rock progressivo, não confunda), metalcore , nu-metal , viking metal e por aí vai . Eu particularmente tenho ouvido bastante folk metal já há muitos ano

A NOITE VAZIA DE AMPARO (Edu Muylaert)

Texto e fotos de EDUARDO MUYLAERT Veio a pandemia, a corroer as estruturas e a provocar desastres que se inscreverão por muito tempo na paisagem. Talvez os tenhamos provocado, com o desprezo pela natureza e o descaso com os mais fracos. Agora temos que conviver com o confinamento ou a morte. Amparo, estado de São Paulo, tem perto de 200 anos, 70 mil habitantes, e um lindo patrimônio histórico e ambiental. O Prefeito decretou quarentena. As pessoas estão isoladas em suas casas. Esta série, feita em 21 de abril de 2020, retrata a cidade sem a sua gente. E os tons dramáticos que parecem refletir a aflição do momento. O Jardim Público sem os casais de namorados, as ruas desertas, o prédio com luzes nas janelas, por trás de um portão que não leva a lugar nenhum. Sou grato, Amparo me acolheu no isolamento.

QUARENTENA, DIA 65

Por DANIELA MARTINS 19/5  - QUARENTENA, DIA 65. Hoje morreram 1.179 brasileiros por Covid-19. Assustador demais. Morreu também João Pedro Mattos, de 14 anos, morador de uma favela da região metropolitana do Rio de Janeiro. Mais um adolescente negro vitimado pela atuação da polícia brasileira, que pode ser chamada de qualquer coisa, menos de ação de segurança pública. Tristeza profunda por tudo, por nós, por elegermos políticos que enaltecem a violência como discurso e método. Com que futuro podemos sonhar assim?

RATO DE LIVRO (Edu Muylaert)

Por EDUARDO MUYLAERT encontrei um Rilke shake custou-me os olhos da cara foi lá na Torre do Tombo não a de Portugal por certo aquele arquivo do rei que ruiu num terremoto no longínquo 1755 já no século XIX ou talvez século XX como diria Albert Camus que nem se lembra do dia  em que a pobre mãe morreu foi lá que um antepassado a remontar a família não acabou a pesquisa dizem que assassinado por um amigo chegado não sei o que faziam sei que foi a machadadas welcome to arquivo nacional da  torre do tombo   search portal números repetidos são fáceis ache uma senha mais segura Evite 00 11 22 33 etc. Não, também não pode 1755 This system aims to simplify and allow the reader to enjoy through the Internet a set of services sim foi na Torre do Tombo achei mesmo na internet um sebo de primeira refúgio de alfarrábios quem sabe de pó e fungos fica em São José do Rio Preto terra onde nasceu Teresa que depois casou

QUARENTENA, DIA 63

Por DANIELA MARTINS 17/5 - Quarentena, dia 63. Teve novo escândalo envolvendo a família do presidente estampado os jornais. Mais 485 brasileiros morreram hoje, de acordo com a contagem oficial. A vida tá difícil mesmo, mas não podemos desistir de continuar lutando por um mundo mais justo e mais feliz. Hoje é dia de levantar a bandeira do arco-íris para defender todas as formas de amar e de ser. Jamais o preconceito, a violência, o desrespeito, a intolerância e a falta de informação e de empatia conseguirão vencer o amor! Hoje é domingo e eu sou uma mãe permissiva e de coração mole. Almoçamos Burger King, me julguem. 🌈❤️

QUARENTENA, DIA 62

Por DANIELA MARTINS 16/5 - QUARENTENA, DIA 62. Com quase 4.700 vidas perdidas, o estado de São Paulo superou a China em número de mortes por Covid-19. O Brasil perdeu hoje mais 816 cidadãos para o vírus. A melancolia do dia frio foi aplacada pela live que rolou num dos terraços do bairro, acompanhada e aplaudida pelos vizinhos. Eu e a Teca acordamos bem cedinho e tomamos café da manhã juntas. Os irmãos mais velhos aproveitaram para dormir até tarde, livres das videoaulas. Fiz arroz de carreteiro para o almoço, enquanto sonhava acordada com um piquenique num gramado qualquer. Fiquei com saudades dos nossos piqueniques deliciosos no Parque da Cidade, em Brasília, e no Jardim Botânico aqui de São Paulo, do meu famoso sanduíche de atum com pepino crocante, que nunca faltava. Parece tudo tão distante agora... Que bom que temos essas pequenas lembranças de dias em que fomos felizes sem nenhuma razão especial... Marcamos uma sessão de cinema na sala e eu preciso ajeitar tudo. Va

SUÉCIA E SÚCIA

–Por J. MARCELO ALVES Nesta quinta (14), ao ser questionado sobre a diferença na mortalidade causada pela Covid-19 no Brasil e na Argentina, o elemento que ocupa a cadeira de Presidente da República no Brasil desafiou: "É só você fazer a conta por milhão de habitantes" —aparentemente, e como de costume, ele não sabia do que falava ou não pensou antes de falar. Provavelmente ambos. Alvo fácil, sitting duck como se diz em inglês; imediatamente apareceram gozações e artigos explicando por que a comparação usando a métrica normalizada por população é ainda pior para o governo brasileiro do que usar os números absolutos. Ficam ainda mais óbvias sua incompetência e falta de preparo. Como ilustrado no gráfico acima, com dados desta semana, a quantidade de mortes por Covid-19 no Brasil é mais de oito vezes superior à argentina —lembrando que nuestros hermanos implementaram políticas de restrição à movimentação e às atividades econômicas muito mais precoces e severas que a

QUARENTENA, DIA 61

Por DANIELA MARTINS 15/5 - QUARENTENA, DIA 61. Não durou um mês o novo ministro da Saúde no cargo. Depois de humilhado publicamente pelo presidente, que decretou reabertura de academias e salões de beleza sem ao menos informá-lo, foi pressionado a assinar protocolo recomendando o uso indiscriminado da cloroquina e, médico que é, se viu obrigado a pedir demissão do cargo. Espero que passe a noite de hoje ajoelhado no milho e de cara pra parede. Não é digno de pena quem aceita cargo no governo Bolsonaro. Em alguma página passada deste diário, eu disse que cada um que tenha feito ou que venha a fazer isso terá que acertar as contas com sua própria história algum dia. Para Nelson Teich, a conta chegou antes mesmo da sobremesa. Tenho pena é de mim, de nós, que estamos submetidos os desmandos de um ex-capitão autoritário, que receita remédios sem base científica, que se recusa a ter interlocução com governadores e prefeitos do país que ele deveria governar. Foi ainda mais absurdo o