Simone de Beauvoir, le 13 décembre 1970 | Jean Meunier / AFP |
Um romance inédito de Simone de Beauvoir vai sair em outubro
Por EDUARDO MUYLAERT (direto de Amparo)
Simone de Beauvoir pode se tornar a grande estrela dos lançamentos literários de outubro, não só na França, mas no mundo todo. A aposta é num romance que a autora, em vida, achou que não valia a pena publicar. Por que agora? Haveria certo oportunismo, ou é uma boa obra? Vamos ver o que dirão os críticos mais impiedosos.
A França continua calada, enquanto Sylvie Lebon de Beauvoir, a filha adotiva e testamenteira literária, preferiu anunciar a novidade em entrevista ao New York Times (28/04/2020). Em tempos normais, isso seria suficiente para desencadear uma violenta cólera nacionalista nos gauleses. Ocorre que a tarefa é ambiciosa, The Inseparables, um romance de 176 páginas, já foi vendido para editoras em 17 países. O editor americano saiu na frente, comprou os direitos antes mesmo de ver a tradução.
E o original? Les Inséparables, por ora não existe. No site da L’Herne, que vai publicar o livro, nada consta. A editora é conhecida por editar monografias críticas de grandes autores, e já lançou, em 2015, a de Beauvoir, com nada menos do que 400 páginas, esgotada. Publicou ainda várias outras obras dela. Mas e o livro novo? Nem um pio.
As parisienses Le Point e Elle dão a notícia de que um romance inédito de Beauvoir vai ser lançado neste outono. Fonte: a entrevista de Le Bon publicada no New York Times, forte indício de que o alvo é o mercado internacional. O The Guardian também dá a notícia, sempre a partir do NYT.
A história é a da relação de Simone com Elisabeth “Zaza” Lacoin, sua melhor amiga, que morreu de encefalite aos 21 anos e a deixou devastada. Em outras obras, Beauvoir já se referia a Zaza como fonte de inspiração para sua visão feminista, além de também vítima das mesmas forças que tolhiam as mulheres da época. Em Memórias de Uma Moça Bem-comportada, Simone relata a pressão da família de Zaza que levou a amiga precocemente falecida a largar os estudos e a terminar a infeliz relação com o filósofo Merleau-Ponty, Jean na novela.
Simone começou a escrever esse romance em 1954, quando o mostrou a Jean-Paul Sartre, que não se entusiasmou. Ninguém sabia onde andava o manuscrito. Sylvie Le Bon de Beauvoir sustenta que o livro é bom, que Simone às vezes era muito dura consigo mesmo. Pode não ter sido publicado por ser muito íntimo, ou por não ter uma visão política, mas é um texto importante para demarcar a trajetória literária da autora, que faleceu em 1986.
O livro é necessário. Simone de Beauvoir, além de símbolo de luta, é uma grande escritora. Único problema: vamos ter de esperar a nossa primavera, torcendo para que até lá a pandemia seja apenas uma lembrança sinistra. Tomara.
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