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QUARENTENA, DIA 49

Por DANIELA MARTINS

03/4 - QUARENTENA, DIA 49. A Dutra estava bastante movimentada para um domingo, mas pelo menos não choveu. Sem ponte aérea e sem correria, a viagem entre São Paulo e Rio tem sido a aventura da quarentena, além de um prazer. Mesmo a descida da Serra das Araras, que seria absolutamente perigosa até para uma charrete.

É bem louco isso, mas o fato é que a estrada que liga as duas maiores cidades do país tem um longo trecho que deixa todos os motoristas tontos e precisa realmente ser percorrido a 40 km/h para evitar acidentes sérios. Cada caminhão descendo aquilo é um susto.

Desci pensando que assim também é a vida. A gente tá num ponto e planeja chegar num outro, mas essa linha jamais será reta e sem sustos e perigos. O importante é manter-se sempre engrenado, como mandam as placas.

Enquanto eu viajava, inclusive na batatinha, e cruzava com quatro ambulâncias pelo caminho, o presidente radicalizava seu discurso em Brasília: “Tenho certeza de uma coisa, nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, e pela liberdade. E o mais importante, temos Deus conosco... Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite, não tem mais conversa, daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão".

Na playlist do carro, Chico cantou “Apesar de você”, e coloquei na sequência a do Sanatório Geral, que combina bem com o Brasil atual.

Cheguei bem. Quando saí do Rebouças, caiu a chuva.

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