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ÀS ARMAS, CIDADÃOS!





Foto: NIU Libraries

Por SOLANGE REIS

Chegaram com armas na mão e rostos parcialmente cobertos.
Formavam a Milícia da Liberdade de Michigan.
Faziam a segurança de outro grupo, a Manifestação dos Americanos Patriotas.
Protestavam todos contra a extensão do confinamento ordenada pela governadora.
Não agiram espontaneamente. Fundamentalistas endinheirados os organizam em redes sociais e associações de ódio. Mas essa é outra história.
Depois de terem a temperatura corporal tomada pela polícia, foram autorizados a entrar na Câmara Estadual.
Termômetros medem febre, um sintoma do coronavírus, mas não detectam delírios, um sintoma da loucura.
Mentes doentes em corpos sãos invadiram o plenário, onde deputados armados vestiam coletes à prova de bala.
Cidadãos e milicianos.
Há várias definições para cidadão. Rousseau dizia que cidadão é aquele que dá seu consentimento às leis. Faz uma espécie de contrato social.
Existe mais de uma definição para miliciano. Interessa aqui a do civil que oferece segurança na ausência do governo.
A aparente contradição do cidadão-miliciano tem respaldo constitucional naquela terra. Está escrito na sua Segunda Emenda que uma milícia armada não só pode, como deve proteger o Estado livre.
Livre de que? Da tirania.
Ora, eram outros tempos quando essa regra foi escrita. Homens usavam peruca, escravos valiam mais do que terras e mulheres... bem, essas eram só pernas abertas e bocas fechadas.
Muita coisa mudou desde então. Pesos e contrapesos institucionais previnem a tirania. Exceto para negros estrangulados por policiais nas calçadas. Mas essa é outra história.
Quando milicianos invadem uma assembleia legislativa no século XXI não querem proteger. Demandam o direito de romper o acordo social e a liberdade para matar e morrer.
Tudo isso são notas sobre um país que se diz a maior democracia do mundo.
Mas essa também é outra história.

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