Captura de tela do final do show do Alestorm em Tilburg, Holanda, 2019 |
–Por J MARCELO ALVES
O rock'n'roll já é um senhor de mais de 60 anos. Eu quase escrevi "um respeitável senhor", como no cliché, mas não. Não seria rock'n'roll se fosse respeitável. Nessas décadas de idas e vindas, e mesmo estando em baixa ultimamente —não é o gênero musical dominante há muito—, o rock não para de gerar novidades para os muitos fãs de todas as idades ainda espalhados por aí.
O rock se subdivide em vários subgêneros e dezenas de subsubgêneros e assim por diante. Roqueiro é bicho que gosta de dividir e classificar, aparentemente. Só dentro do metal, meu subgênero preferido, tem um monte de subtipos: power metal, doom, black, thrash, folk, speed, sinfônico, death, progressivo (mais pesado que seu parente, o rock progressivo, não confunda), metalcore, nu-metal, viking metal e por aí vai.
Eu particularmente tenho ouvido bastante folk metal já há muitos anos. Nesse tipo de metal, muito popular na Europa (especialmente mais ao norte), misturam-se instrumentos modernos (guitarras distorcidas, baixo, bateria) e tradicionais —como violinos, hurdy-gurdy, gaita de fole, acordeão, diversos tipos de flautas e instrumentos de corda e percussão antigos. Tudo junto e misturado. Muitas vezes cantados em línguas locais ou mortas.
Não são bandas que se consegue ouvir nas rádios. Nem mesmo nas poucas especializadas em rock, pois tendem a focar em rock clássico, os grandes sucessos, esse tipo de coisa. Tudo ótimo, mas tem muita coisa obscura e boa por aí e a Internet não decepciona quem quer descobrir bizarrices maravilhosas. O bendito (?) algoritmo se encarrega de fazer as sugestões e, muitas vezes, aparecem coisas que agradam.
Aí entra o pirate metal. Metal pirata, bandas com temática pirata nas letras e na sonoridade. O estilo parece ter sido inaugurado nos anos 1980 com a banda alemã Running Wild, que é muito boa. Mas hoje quero falar de outro grande expoente deste pequeno estilo musical, que um dia descobri no YouTube em uma daquelas sugestões aparentemente aleatórias: Alestorm.
Os escoceses do Alestorm claramente não se levam muito a sério, fazem vídeos hilários, usam teclados para fazer os sons dos instrumentos tradicionais —diferentemente de outras bandas de folk metal, que usam os instrumentos reais— mas nada disso importa. Quando começam a tocar, é empolgante.
Infelizmente, nunca vi a banda ao vivo. Tocaram em dezembro de 2017, do ladinho da minha casa, e eu não fiquei sabendo. Quando voltaremos a ter shows com milhares de pessoas num salão como o Tropical Butantã ou o Carioca Club, para ficar em dois aqui da minha vizinhança?
Por um bom tempo não vai rolar, mas um fim de semana desses da quarentena, matando tempo no YouTube, me foi sugerida uma gravação de um show do Alestorm. Live in Tilburg (Holanda), 2019. Por curiosidade, sem o que fazer e meio bêbado de Jack Daniels Honey, comecei a assistir aos caras e não consegui parar até o fim. Já tinha visto alguns vídeos oficiais deles, mas o show...
A energia do público é insana e contagiante. Quem já esteve em um show desse tipo —e estive em mais de cem, por enquanto— não consegue não ter vontade de ir ver a banda ao vivo. Para uma amostra do que é isso, os primeiros dez minutos da apresentação bastam.
Os músicos não se vestem de pirata nem nada disso. Muito pelo contrário. O vocalista está vestido com um kilt (a tradicional "saia" masculina escocesa), sandálias e uma camiseta regata que diz I got lost in the Gay Dolphin. Outros mais parecem skatistas. Vale tudo, contanto que a taberna esteja animada.
Num certo ponto (minuto 27:40, na canção No grave but the sea), o tour manager da banda é mandado para um crowdsurfing (quando alguém é carregado pela plateia pelo alto, de mão em mão), só que nesse caso a bordo de um bote inflável.
Um enorme pato inflável amarelo (até onde eu saiba os escoceses nem sabem da existência da Fiesp) fica no meio do palco o show quase todo, sendo jogado para seu próprio crowdsurfing perto do final da apresentação, na canção "Drink". Acaba assassinado pela plateia por ordem do vocalista, sabe-se lá por que razão.
O nonsense abunda. O vocalista se despede, depois de 19 canções em pouco mais de uma hora e meia, com: "We'll be back sooner than you can say 'sausages'. But until then, let's all get drunk and have sex with crocodiles!" Não me pergunte.
Bizarrices e comédia à parte, a música é divertidíssima e dá vontade de sair pulando. Quem sabe um dia... Enquanto isso, como dito na descrição do vídeo:
"Oh wow! Back in the before time, in the long long ago, before many of you were even born, people could roam the earth freely without fear of being struck down by deadly diseases. We now present to you a relic from that ancient time-lost era; a 'live concert'! Behold in wonder as 3000 people stand shoulder to shoulder in a room without becoming deathly ill! Marvel at the careless abandon as 5 talentless musicians play a show for 90 minutes without once washing their hands! Recoil in horror as a 2 metre tall man inhales several beers in swift succession! Most importantly though, stay home, stay safe, and enjoy the show!"
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