–Por J. MARCELO ALVES
Nesta quinta (14), ao ser questionado sobre a diferença na mortalidade causada pela Covid-19 no Brasil e na Argentina, o elemento que ocupa a cadeira de Presidente da República no Brasil desafiou: "É só você fazer a conta por milhão de habitantes" —aparentemente, e como de costume, ele não sabia do que falava ou não pensou antes de falar.
Provavelmente ambos.
Alvo fácil, sitting duck como se diz em inglês; imediatamente apareceram gozações e artigos explicando por que a comparação usando a métrica normalizada por população é ainda pior para o governo brasileiro do que usar os números absolutos. Ficam ainda mais óbvias sua incompetência e falta de preparo.
Como ilustrado no gráfico acima, com dados desta semana, a quantidade de mortes por Covid-19 no Brasil é mais de oito vezes superior à argentina —lembrando que nuestros hermanos implementaram políticas de restrição à movimentação e às atividades econômicas muito mais precoces e severas que as nossas. Uma quarentena total. Lockdown, como está na moda dizer. Pessoalmente, refiro tranca-rua.
No mesmo dia, o ainda Presidente do Brasil resolveu citar a Suécia como exemplo a ser seguido. "Vamos falar da Suécia? Pronto! A Suécia não fechou!"
Não é coincidência, certamente, que dois dias antes o senador americano Rand Paul (republicano de fumos libertários, quando interessa) tenha dito: "We need to observe with an open mind what went on in Sweden, where the kids kept going to school" (temos que ver com a mente aberta o que aconteceu na Suécia, onde as crianças continuaram a ir para a escola).
Se tem uma coisa de que não se pode acusar o atual mandatário de Pindorama é de criatividade. É só algum estadunidense conservador falar algo para ele macaquear logo em seguida. Pelo menos quando interessa.
O que tanto o senador quanto seu vassalo tropical convenientemente ignoram é que nem os EUA nem muito menos o Brasil são exatamente uma Suécia.
O país nórdico tem população pouco menor que a da cidade de São Paulo, baixo nível de desigualdade, alta renda, alto nível educacional e um forte sistema público de saúde. Cerca de 56% das moradias suecas abrigam somente uma pessoa. Quanto ao Brasil, nem precisamos comentar.
E, ainda assim, vemos que proporcionalmente a Suécia teve cinco vezes mais mortes que o Brasil. Mesmo com a população sueca seguindo medidas de distanciamento e fechando vários estabelecimentos por conta própria, como sugerido por seu governo.
Agora imagina se nossos governos estaduais e municipais tivessem seguido as diretrizes (ou, melhor falando, falta de) da Presidência? Estaríamos numa carnificina muitíssimo pior do que as quase quinze mil mortes oficialmente registradas até aqui como decorrentes da Covid-19 —e este número está, estima-se, bem abaixo do real. Sem falar das pessoas que não morreram de Covid-19, mas por causa da Covid-19. Em São Paulo, está havendo 170% mais mortes que a média histórica, segundo o epidemiologista Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina da USP.
Claro que ainda é cedo para saber a extensão total do que vai acontecer em cada país, e mesmo em cada região de cada país. Só a análise cuidadosa das estatísticas de mortalidade, daqui alguns meses ou anos, vai mostrar melhor o que aconteceu e como cada estratégia se saiu na proteção da população local.
No Brasil, aparentemente está tudo bem, já que trocamos de Ministro da Saúde pela segunda vez em menos de um mês.
Nesta quinta (14), ao ser questionado sobre a diferença na mortalidade causada pela Covid-19 no Brasil e na Argentina, o elemento que ocupa a cadeira de Presidente da República no Brasil desafiou: "É só você fazer a conta por milhão de habitantes" —aparentemente, e como de costume, ele não sabia do que falava ou não pensou antes de falar.
Provavelmente ambos.
Alvo fácil, sitting duck como se diz em inglês; imediatamente apareceram gozações e artigos explicando por que a comparação usando a métrica normalizada por população é ainda pior para o governo brasileiro do que usar os números absolutos. Ficam ainda mais óbvias sua incompetência e falta de preparo.
Como ilustrado no gráfico acima, com dados desta semana, a quantidade de mortes por Covid-19 no Brasil é mais de oito vezes superior à argentina —lembrando que nuestros hermanos implementaram políticas de restrição à movimentação e às atividades econômicas muito mais precoces e severas que as nossas. Uma quarentena total. Lockdown, como está na moda dizer. Pessoalmente, refiro tranca-rua.
No mesmo dia, o ainda Presidente do Brasil resolveu citar a Suécia como exemplo a ser seguido. "Vamos falar da Suécia? Pronto! A Suécia não fechou!"
Não é coincidência, certamente, que dois dias antes o senador americano Rand Paul (republicano de fumos libertários, quando interessa) tenha dito: "We need to observe with an open mind what went on in Sweden, where the kids kept going to school" (temos que ver com a mente aberta o que aconteceu na Suécia, onde as crianças continuaram a ir para a escola).
Se tem uma coisa de que não se pode acusar o atual mandatário de Pindorama é de criatividade. É só algum estadunidense conservador falar algo para ele macaquear logo em seguida. Pelo menos quando interessa.
O que tanto o senador quanto seu vassalo tropical convenientemente ignoram é que nem os EUA nem muito menos o Brasil são exatamente uma Suécia.
O país nórdico tem população pouco menor que a da cidade de São Paulo, baixo nível de desigualdade, alta renda, alto nível educacional e um forte sistema público de saúde. Cerca de 56% das moradias suecas abrigam somente uma pessoa. Quanto ao Brasil, nem precisamos comentar.
E, ainda assim, vemos que proporcionalmente a Suécia teve cinco vezes mais mortes que o Brasil. Mesmo com a população sueca seguindo medidas de distanciamento e fechando vários estabelecimentos por conta própria, como sugerido por seu governo.
Agora imagina se nossos governos estaduais e municipais tivessem seguido as diretrizes (ou, melhor falando, falta de) da Presidência? Estaríamos numa carnificina muitíssimo pior do que as quase quinze mil mortes oficialmente registradas até aqui como decorrentes da Covid-19 —e este número está, estima-se, bem abaixo do real. Sem falar das pessoas que não morreram de Covid-19, mas por causa da Covid-19. Em São Paulo, está havendo 170% mais mortes que a média histórica, segundo o epidemiologista Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina da USP.
Claro que ainda é cedo para saber a extensão total do que vai acontecer em cada país, e mesmo em cada região de cada país. Só a análise cuidadosa das estatísticas de mortalidade, daqui alguns meses ou anos, vai mostrar melhor o que aconteceu e como cada estratégia se saiu na proteção da população local.
No Brasil, aparentemente está tudo bem, já que trocamos de Ministro da Saúde pela segunda vez em menos de um mês.
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