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Anything else I can help you with, ma´am? – parte 3

  ETEL FROTA Em Auckland, passo por debaixo do wharenui , o enorme portal da casa comunitária de encontros māori, de onde ressoa um delicado canto feminino de boas-vindas. A viagem foi dura, mas estou na Nova Zelândia, onde tudo sempre dá certo. Cara a cara com a senhora da imigração, já cheguei me justificando. Sorry, tinha tido problemas no preenchimento da NZeTA, primeiro, e depois na NETD. Fui depositando no balcão o celular aberto no formulário parcialmente preenchido, o certificado de vacinação impresso, o PCR negativo, passaporte. Muito ansiosa, esbarro nas palavras em meu inglês enferrujado pelo confinamento. [Aliás, tenho percebido que enferrujadas estão minhas habilidades de comunicação, mas isto não é assunto para agora.] Com um sorriso protocolar, ela sequer olhou para meu calhamaço.   Tranquilamente, me estendeu uma folha de papel, um xerox mal ajambrado, onde eu deveria marcar um xis declarando estar vacinada e outro confirmando ter tido um PCR negativo até 48 horas

¿Algo más en lo que pueda ayudarla, señora? – parte 2

  ETEL FROTA   Sem almoço, com uma certa ardência no estômago, consegui embarcar. No voo para Santiago, lembrei da NZTD, a declaração do viajante sem a qual eu não entraria na Nova Zelândia.   Bianca e eu, no final das contas, tínhamos esquecido dela. Haveria tempo para resolver isto na escala. Desembarcada, procurei o monitor que me diria o portão de embarque para Auckland; seria informado dentro de 19 minutos. Eu tinha muita sede e fome, mas – pela bagatela de dezenove minutos – não valia a pena sair dali sem saber para que lado me dirigir. Sentada no chão, esperei pela informação por outra uma-hora-e-vinte-minutos. Talvez a cabala explique uma coisa dessas.               Corri para o portão de embarque.               Quem podia me ajudar com a NZTD? Lucia me mostrou como abrir o formulário; o embarque estava começando. Quando vi o teor das perguntas, entendi que não daria tempo. Eu teria que relacionar, uma a uma, as datas de vacinação, as marcas das vacinas, detalhes do

Algo mais em que possa ajudá-la, senhora? – parte 1

  ETEL FROTA O check in, em Guarulhos, começará às 13h30m. São 11h10m no centro de São Paulo. Malas prontas e fechadas, garrafinha de água à mão, passaporte checado e acessível, só me falta guardar o laptop, aberto há mais de uma hora na caixa de entrada do email, por onde – me garantiu o cara do laboratório – receberei o resultado do meu PCR, “no mais tardar, às 11”.   ‘Por email, certeza?” “Certeza, senhora, pode ficar tranquila”. Pelo whats app e telefone jogo o jogo dos robôs e, finalmente consigo falar com uma pessoa humana. Duas. Três. “Em que posso ajudá-la, senhora?” Uma hora e vinte minutos depois de enfrentamentos de proporções sísmicas, o laboratório “abre uma exceção” e me manda por email o resultado, negativo, que teria que ser acessado exclusivamente através do aplicativo em que não consegui recadastrar senha, por motivo de bugs variados, todos do site.           Chego a tempo ao check in. Bianca, simpática, começa os procedimentos, que são muitos. A Nova Zelândia exige

Quarentena, ano 2: vivendo com força a distopia

  Por Daniela Martins Quando me mudei para Brasília, em janeiro de 2010, havia um clima de alegria no ar, era inegável. O Brasil vivia tempos de mudança social intensa e de muita esperança no futuro.  Na rampa do Congresso Nacional, que visitei com meus filhos ainda bem pequenos naquela ocasião, alguém havia deixado um recado escrito com batom vermelho: “Valeu, Lula!”.  Fiquei encantada com aquela irreverência, com aqueles palácios da Praça dos Três Poderes, tão importantes, todos sem muros ou grades, com os garotos descendo as laterais do gramado em folhas de papelão.  Um ano depois, o país elegia a primeira mulher para a Presidência da República. Nós comemoramos, rodamos a cidade acompanhando o buzinaço alegre dos carros. Eu realmente acreditava que meus filhos veriam um país muito diferente do Brasil da ditadura em que eu cresci.  Essa certeza começou a mudar com aquele processo vergonhoso de impeachment da Dilma.  A foto que ilustra este post eu tirei num protesto em maio de 2017.

QUARENTENA, ANO 2 - É verdade esse bilete

Por Daniela Martins Desci depois da chuva para ir até a farmácia e acabei dando uma volta no quarteirão. Depois de dias sem colocar o nariz pra fora de casa, é preciso esticar as pernas. Quando dobrei a esquina da Itambé, vinha subindo um catador, desses que recolhem papelão nas ruas, puxando sua carroça. A carroça era um acontecimento: caixa de som com um rock nas alturas e uma bandeira dos EUA hasteada, orgulhosa. Até agora tento compreender a cena... Um novo “empreendedor” de si mesmo? Um trumpista tropical? Um trabalhador desiludido com seu próprio país? Um amante do rock? Um nascido em 4 de julho? Não era mesmo fácil de entender. Mas tá todo mundo meio louco, nem convém ficar buscando sentido nas coisas atualmente. O dia já não tinha sido fácil. O sociopata que ocupa a Presidência havia implementado uma reforma esquisita e trocado seis ministros, entre eles o da Defesa. Na esteira dessa demissão, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica colocaram seus cargos à