ETEL FROTA
O check in, em
Guarulhos, começará às 13h30m. São 11h10m no centro de São Paulo. Malas prontas
e fechadas, garrafinha de água à mão, passaporte checado e acessível, só me
falta guardar o laptop, aberto há mais de uma hora na caixa de entrada do
email, por onde – me garantiu o cara do laboratório – receberei o resultado do
meu PCR, “no mais tardar, às 11”. ‘Por
email, certeza?” “Certeza, senhora, pode ficar tranquila”. Pelo whats app e
telefone jogo o jogo dos robôs e, finalmente consigo falar com uma pessoa
humana. Duas. Três. “Em que posso ajudá-la, senhora?” Uma hora e vinte minutos
depois de enfrentamentos de proporções sísmicas, o laboratório “abre uma
exceção” e me manda por email o resultado, negativo, que teria que ser acessado
exclusivamente através do aplicativo em que não consegui recadastrar senha, por
motivo de bugs variados, todos do site.
Chego
a tempo ao check in. Bianca, simpática, começa os procedimentos, que são
muitos. A Nova Zelândia exige muitas comprovações sanitárias. Até por este
motivo, fez o bonito que fez durante a pandemia. Apresento meu PCR negativo,
meu passaporte válido, minha carteira de vacinação. “Senhora, a Nova Zelândia
não está aceitando a sua NZeTA”. [NZeTA é uma autorização de viagem eletronicamente
obtida mediante o escaneamento daquela espécie de código de barras do
passaporte, o preenchimento de alguns poucos dados e a obtenção de uma selfie
em tempo real]. Fiz o meu logo que comprei a passagem, estava OK, conforme
comprovava a telinha do meu celular. “E a NZTD, a senhora preencheu?” Eu não
soube responder. “Sem a NZTD a senhora não entra na Nova Zelândia”. É uma Declaração
do Viajante, ela me esclareceu; mostraria como fazer, logo que soubéssemos o
que tinha havido com a NZeTA. “Só por telefone. Já liguei para lá, temos que
aguardar retorno”. A fila engrossava e Bianca era o único guichê aberto. “A
senhora pode aguardar ao lado, por favor?”
Em
frente ao guichê vazio ao lado, comi uma maçã e voltei várias vezes a abordar
Bianca, que começou a demonstrar sinais de impaciência. Impaciência comigo. A
essa altura, já havia outro guichê aberto e eu tentava convencê-la de que a NZ
não iria facilmente retornar a ligação às 5 da madrugada, era preciso agir e
não tínhamos muito tempo.
Apareceu um Anderson
visivelmente contrariado, que começou a conversar com Bianca, enquanto ela
continuava a atender os passageiros da fila; percebi que falavam sobre o meu
caso. Me aproximei, pedindo para participar da conversa. Anderson me respondeu
que a conversa era entre eles, eu que aguardasse ao lado. Ponderei que talvez
eu tivesse algo com que contribuir. “Senhora, eu já disse que a conversa é
entre nós, por favor, tenha um pouco de educação”. Eu não tinha lhes faltado
com, tenho certeza.
Ainda mais
irritado, Anderson assumiu o guichê e Bianca finalmente se dedicou ao meu caso.
A investigação, que poderia ter sido feita uma hora antes, durou menos de 1
minuto. Meu passaporte tem letras ‘O’ e números zero. No escaneamento, tudo
resultara em bolinhas indistintas. Confabulamos que o melhor a fazer era
cancelar aquela NZeTA e fazer uma nova. Assim
fizemos, incluindo a selfie em tempo real que necessita ser feita sobre fundo claro,
o que me obrigou a permanecer minutos constrangedores agachada diante do guichê vazio, única alternativa de
parede branca à mão, ante a plateia reunida na fila, que a essa altura era imensa.
Após uma hora
e vinte minutos em pé, sem almoço, segurando o caroço da maçã, obtive meu
cartão das mãos de um Anderson um tantinho menos agressivo mas de quem não recebi nenhum sorriso, nem ouvi
nenhum pedido de desculpas. Segui correndo para o embarque, não sem antes ter
que voltar para resgatar meu celular que Bianca tinha deixado dentro do guichê.
No voo para Santiago, lembrei da NZTD, da qual Bianca e eu, no final das contas, tínhamos nos esquecido. Bianca esta que, no caso, decerto não deveria ter me deixado embarcar. Tomara que o Anderson nunca tome conhecimento deste descuido. Tudo bem, haveria tempo para resolver isto na escala.
...continua
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