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DARÍN NUM SÁBADO À NOITE




Foto capturada do site Filo.tón

Por SOLANGE REIS

Cada um espera o que quiser de um sábado à noite. Eu espero boa companhia, uma taça de vinho, pizza de farinha de couve-flor com dois queijos e um filme com Ricardo Darín.

Esse argentino é como sopa quente no inverno. Dá um conforto...

Darín é quase feio. Dentes demasiado grandes, cavalares; queixo afunilado; nariz lamentável. Seus olhos azuis e cabeleira farta não bastam para equilibrar o rosto.

Com baixa estatura, idade e barriga consolidada, passa longe de ser sexy. Mas aposto que é um grande amante. Que ama com calma e fundo, até a alma se sentir beijada. Uma versão portenha do Chico imaginário.

Ele simplesmente me convence de tudo. Mesmo quando o roteiro e a direção derrapam em Kóblic. Ou, então, quando contracena com uma atriz quase alface em Sétimo.

Darín é o amigo fiel de Truman; o cidadão atormentado com o Segredo dos Teus Olhos; o ex que desperta Um Amor Inesperado.

Darín somos todos nós quando protagonizamos a ira em nossos Relatos Selvagens diários. É o filho que toda noiva quer ter.

Quando o vejo em cena, não sei explicar. Sou tomada por um otimismo bobo, um vai dar certo, um vale a pena. Quero juntar-me à Odisseia dos Tontos e vingar todos os latinos roubados por Fernandos, Carlos, Augustos, Hugos.

Alguém há de dizer que, longe das câmeras, ele tratou mal uma colega ou foi arrogante com um fã. Não duvido. Nem me interesso. Darín também será a incoerência humana.

Fico com seu sotaque argentino, a voz reconfortante, aquela lágrima sincera, as rugas intocadas, o sorriso que abraça. E a ilusão da sétima arte.

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