por — Eduardo Muylaert
Gosto de ler o Globo
olhando o mar do Leblon
nos quiosques da calçada
o coco com muita água
invejo os que dão conta
de driblar vento e areia
ler tranquilos o diário
na barraca em pleno sol
distraídos nem reparam
nos gritos: — mate leão
nos sacos de biscoito globo
e nas bundas [e peitos] ao redor
Gosto de ler o Guardian
no terrasse bar da Tate Modern
level 1 do Blavatnik Building
depois ver uma exposição [qualquer uma]
Em São Paulo tanto faz
leio por alto o Estadão [tão cioso]
aí mergulho na Folha [que se acha tão moderna]
mais importante o expresso [sem falar no pão francês]
Em Paris, no terraço de um café
o Flore, o Deux Magots, o Tabac da esquina,
começo pelo alegre Figaro, leve e conservador,
aí ataco o Le Monde, esse sim é de rigor
Em Milão, ou mesmo em Roma,
sempre o Corriere dela Sera
diante de uma bela chiesa
a qual encaro de esguelha
Agora viajo mais [muito mais]
vou a qualquer cidade [ou país]
sem poder sair de casa vivo,
um pouco desalentado,
a tal era digital,
do fundo do meu quintal
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