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HONEY, I'M HOME

                                         

- por TONY GOES

Estou me divertindo com o desespero de algumas pessoas, subitamente forçadas ao home office. Eu trabalho direto em casa há quase três anos, e tive outras experiências do gênero ao longo da minha carreira. É bom? É óóótemo. Para começar, não é preciso se embelezar, ou sequer se vestir, para trabalhar em casa. Eu não tenho um mumu havaiano como o que o Homer Simpson desfilou quando encarou um escritório caseiro, mas, neste exato momento, estou usando calças tailandesas esvoaçantes. Também é maravilhoso não ter que enfrentar o trânsito, e poder parar de repente para ver televisão. Há perrengues? Sim, claro. Quem tem criança em casa deve estar procurando um método para eliminá-las sem muita dor. Eu tenho minha mãe de 83 anos, que não entende muito bem o conceito de home office e vem de 15 em 15 minutos me pedir para mudar o canal da TV do quarto dela, pois não sabe usar o controle remoto. De vez em quando, também sinto falta dos colegas, dos almoços, das rodinhas de café para falar mal da chefia. Mas minha vida normal tem muito evento, muita cabine, muita visita a sets de filmagem, muita viagem. Na pandemia, claro, não tem mais nada disso, mas não posso dizer que a minha rotina mudou radicalmente. Na prática, meu dia de trabalho é até mais longo que o da maioria da população: não é raro eu pegar no batente antes das 9 da manhã e só largar depois das 8 da noite. Vocês, que trabalham fora, vão ver só como será duro voltar para o esquema habitual. Aproveitem enquanto é tempo.


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