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- Por CHRISTINANA MARIANI

Entre uma caminhada do quarto para sala, da cozinha para o banheiro, depois de fazer yoga online, meditar, lavar passar, cozinhar, verificar se minha filha de 13 anos está mesmo acompanhando as aulas online da escola, fazer uma conference call com as amigas no House Party, passar horas e horas lendo, respondendo e repassando milhares de memes, áudios e mensagens de solidariedade, força, carinho, desespero, angústia e todos os sentimentos imagináveis da família, dos amigos, inimigos e grupos possíveis e impossíveis no WhatsApp, de ouvir as notícias no rádio e na TV, ver uma ou duas séries, sofrer pela mãe de 82 anos que está longe e sozinha e pelo sogro de 87 que usa um marcapasso, ter pena da cachorra que mal pode ir à rua, ter medo de engordar loucamente e de faltar comida, remédio e tinta para o cabelo, e de esperar, nervosa, pelo marido, exposto aos horrores da rua porque não pode parar de trabalhar, respiro e paro para ler ”Boneco de neve”, de Jo Nesbo, livro indicado pelas amigas do meu clube do livro. Para quem ainda não conhece, é um livro policial sobre um detetive em busca de um serial killer em Oslo. Ler para não enlouquecer.


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