O texto abaixo foi originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo em dezembro de 2016, quando os Focassauros se reuniram pela primeira vez:
- Por EDUARDO MUYLAERT
Mais de 1.500 candidatos se inscreveram correndo quando a Folha anunciou seu Primeiro Programa de Treinamento Sênior, reservado aos maiores de 40 anos. Muitos nem sabiam bem o que estavam fazendo, mas queriam suprir, ainda que por 60 dias, a lacuna ou a frustração de não terem sido jornalistas.
O “vestibular” não foi fácil, mas, no dia 3 de outubro, os 12 escolhidos foram chegando timidamente, com certa reverência, ao quinto andar do prédio da rua Barão de Limeira, a famosa redação. A recepção foi animadora; cada um recebeu uma bancada de trabalho, com computador e telefone, um endereço de e-mail no Grupo Folha, o clássico “Manual de Redação” e ainda um objeto mágico, o bloquinho com o logo do jornal na capa, verdadeiro fetiche. Ao fim do primeiro dia, todos saíram se sentindo jornalistas, melhor, jornalistas da Folha, ainda que por alguns dias.
O “vestibular” não foi fácil, mas, no dia 3 de outubro, os 12 escolhidos foram chegando timidamente, com certa reverência, ao quinto andar do prédio da rua Barão de Limeira, a famosa redação. A recepção foi animadora; cada um recebeu uma bancada de trabalho, com computador e telefone, um endereço de e-mail no Grupo Folha, o clássico “Manual de Redação” e ainda um objeto mágico, o bloquinho com o logo do jornal na capa, verdadeiro fetiche. Ao fim do primeiro dia, todos saíram se sentindo jornalistas, melhor, jornalistas da Folha, ainda que por alguns dias.
A iniciação nem sempre foi tranquila, houve momentos de exaustão nessa vivência de dupla jornada, que chegou a ser comparada a um regime semiaberto. Fomos dispensados da tornozeleira eletrônica, mas ninguém abriu mão de exibir orgulhosamente o crachá, que libera as catracas e nos dá acesso a uma nova identidade.
As editoras Vera Guimarães Martins e Suzana Singer não acreditaram no ditado, traduzido do inglês, que diz que não dá para ensinar truque novo a cachorro velho. Foram elas que pacientemente ensinaram o novo “métier” a essa turma interessante, porém heterodoxa: poucos tinham passado pelas faculdades de jornalismo ou por redações antes. Além disso, vinham das mais variadas formações.
A turma parece um daqueles times chamados para resolver missões impossíveis no cinema. O talento publicitário e o humor de Ricardo Chester, 49, logo batizou o grupo do “Os Focassauros”, juntando o foca, o principiante, com os extintos dinossauros.
João Gabriel Junqueira, 48, gerente de publicidade da Folha, e Tony Goes, 56, colunista do site F5 e roteirista, são os trainees que já integravam o elenco do jornal e que vieram se reciclar.
Entre os advogados, a carioca Christiana Mariani, 54, mestre pela Universidade de Warwick (UK), e este que vos fala.
A médica Etel Frota, 64, paranaense, depois de aposentada tornou-se uma premiada produtora cultural, letrista de MPB e radialista. Etel se deslocou para o Nordeste e acompanhou por dois dias uma turnê de Whindersson Nunes, compartilhando com ele e equipe cansativas horas de viagem na van da produção.
Daniela Pintão, 40, poliglota, tradutora e documentarista com mestrado em Barcelona, também se enfiou em eventos de youtubers, passando dois dias dentro do Anhembi para acompanhar o festival Digital Stars Extreme.
Fabrício Neves, 40, carioca, é professor de ciência política e sociologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Um dia acabou se atrasando, pois teve de ir ao Butantã para uma entrevista com youtubers de ciência.
Solange Reis, 52, formada em jornalismo e em ciências políticas, com pós-doutorado em relações internacionais, é especialista em política externa dos Estados Unidos e da Alemanha. Entre uma aula e outra a que assistia na redação, Solange dava entrevistas sobre a eleição de Donald Trump em vários canais de televisão. Foi também a primeira focassaura a estrear nas colunas do jornal.
João Marcelo Alves, 42, o multimídia Jota, é biólogo e professor no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, com pós-doutorado em genômica e bioinformática pela Virginia Commonwealth University. Estuda ainda astronomia e astrofísica, é multi-instrumentista e até já integrou uma banda de rock. Jota é o inspirador dos gráficos que ilustram nossos textos.
Daniela Martins, 41, é museóloga, além de jornalista nata. Carioca, mora em Brasília e faz produção de textos para TV, rádio, internet e redes sociais no blog do jornalista Kennedy Alencar. Quando entrevista é um perigo, pois sua voz doce e irresistível desarma completamente o entrevistado.
Ricardo Kuchenbecker, 47, o sério professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, onde fez doutorado e é chefe da emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, logo agregou sua experiência de pesquisador e sua enorme cultura.
Quem vê esses perfis lado a lado jamais poderia imaginar que iriam formar um time coeso e solidário, onde a amizade é um valor, tanto quanto a competência e a vontade de produzir.
Mesmo com toda a bagagem anterior de cada um, a imersão no jornal abriu perspectivas e desenvolveu habilidades de comunicação hoje indispensáveis também no mundo universitário e científico.
Cada um de nós viveu na pele, por dois meses, o que é estar dentro de um grande jornal. Começamos a entender as dificuldades que enfrenta a imprensa num mundo ao mesmo tempo em crise e em transformação. A rica experiência nos anima, agora, a fazer o melhor uso possível desse aprendizado. Essa vai ser a nossa maneira de dizer: obrigado Folha.
O paulistano Eduardo Muylaert, 71, o decano, fez pós-graduação na Faculdade de Direito de Paris (Panthéon-Sorbonne), atuou no governo e na Justiça Eleitoral e ficou alguns dias surdo depois de acompanhar de perto dois grandes eventos de youtubers.
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