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A FALA DO TRONO

- por TONY GOES
Assistir a "The Crown" diminuiu minha admiração pela família real britânica. A série da Netflix me deu a impressão de que os Windsors são pouco melhores do que mafiosos, capazes das maiores sacanagens para manter seus privilégios. Mas hoje, Elizabeth R mostrou, mais uma vez, que está à altura do trono que ocupa. Tirando os tradicionais discursos de Natal, Sua Majestade deu o que foi apenas seu quinto pronunciamento especial à nação (os anteriores foram, pela ordem, por causa da Guerra do Golfo, a morte de Diana, a morte da rainha-mãe e o Jubileu de 2002). O tema da vez, é claro, foi a pandemia. A fala foi épica. Tecnicamente, Lilibeth é perfeita. Aos 93 anos, ela se mostra muito mais familiarizada com o teleprompter do que certos ex-presidentes em exercício. Sabe dar as pausas certas, com a entonação adequada, e sem usar óculos - imagina o tamanho que essas letras devem ter? O texto também está maravilhosamente bem-escrito. Cobre todas as bases, dos pêsames às famílias enlutadas às coisas boas que o confinamento pode nos trazer. Que inveja dos súditos da rainha. Queria tanto saber como é ter um líder preparado num momento de crise...

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