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QUARENTENA, DIA 36

Por DANIELA MARTINS

20/4 - QUARENTENA, DIA 36. Hoje eu limpei minha casa inteira. Varrer e passar pano em cada cantinho dá uma sensação de segurança durante a pandemia. Mas eu sei que é só um conforto psicológico, porque o vírus está fazendo um estrago verdadeiro lá fora.

As últimas 24 horas registraram 383 mortes no Brasil. Depois, o Ministério da Saúde ressuscitou alguns e corrigiu o número para 113. De todo jeito, é muita gente, impossível não ficar triste.

E também apavorada. Em São Paulo, mais da metade dos infectados é mulher e tem menos de 50 anos. Não é nada confortável saber que me encaixo neste grupo e que, portanto, corro risco efetivo de ser contaminada.

A gata pulou dentro da máquina de lavar enquanto eu pegava as roupas no banheiro. Escutei o barulho e os miados, cheguei a tempo de ver o bicho com carinha aflita, tentando escalar o tambor de metal escorregadio. Estava desligada, por sorte.

Me lembrei de uma visita que fizemos à minha irmã e vimos um aviso estranho na porta da geladeira: “Favor não fechar com o gato dentro”. Entendi hoje.

Dormi mal e sonhei com o Bolsonaro tossindo. Pesadelo forte, né? Ninguém sabe o que fazer para segurar o sujeito. Um presidente que frequenta e festeja atos antidemocráticos e que claramente afronta as instituições do país que governa. Ou que deveria governar.

Merece um processo de impeachment, mas parece justamente querer forçar esse caminho para ter um inimigo declarado, o próprio Estado Democrático de Direito.

Ele quer ver o circo pegar fogo, é um emissário do caos e da destruição. E ainda tem quem goste e elogie, os que pregam a fantasia da “nova política”.

É trágico o rumo do país. Como diz um dos já clássicos memes da pandemia, o Brasil está lutando contra um vírus e um verme ao mesmo tempo. Dureza.

Pelo menos pro verme, o remédio do ministro-astronauta pode ser que funcione. Vamos agilizar esses testes aí!

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