Pular para o conteúdo principal

QUARENTENA, DIA 41

Por DANIELA MARTINS

25/4 - QUARENTENA, DIA 41. Ontem foi um dia longo. Depois da demissão do ministro da Justiça e do pronunciamento surrealista do presidente, ainda vimos Moro mandar para o Jornal Nacional prints de conversas suas com Bolsonaro e com a deputada e afilhada Carla Zambelli, que provariam que o presidente queria mesmo interferir na PF e que ele, Moro, não teria pedido o cargo no STF.

É interessante acompanhar a elasticidade do entendimento de Moro sobre aceitar ou não conversas de WhatsApp como provas. Contra seus adversários, são válidas. Contra ele mesmo, como as reveladas pela série de reportagens da Vaza Jato, são inadmissíveis. E se Bolsonaro questionasse a veracidade do print, como fez Moro naquela ocasião?

A nação acordou de ressaca e passou o dia acompanhando os posts dos eleitores arrependidos de Bolsonaro. Os lavajatistas ficaram furiosos com o presidente.

Eu tive vontade de perguntar a cada um deles que poção mágica eles beberam para ter escutado cada absurdo criminoso dito em alto e bom som por Bolsonaro e, ainda assim, ter conseguido apertar 17 na urna eletrônica.

Não preciso repetir aqui em detalhes, todo mundo escutou quando ele louvou torturador, pregou que o erro da ditadura foi não ter matado 30 mil, desrespeitou negros, mulheres e indígenas. O que esperavam que fosse acontecer de diferente?

E Moro, que desculpa deu para ter se aliado a isso? Carta branca contra a corrupção? Concedida pelo capitão da milícia? Se engana quem gosta.

De todo modo, abraço cada um que desperta do transe e retira seu apoio a esse desgoverno. Sejam todos bem-vindos de volta à humanidade.

Com essa loucura toda, acabamos conseguindo deixar a pandemia em segundo plano, por incrível que pareça. Mas tivemos outras 346 mortes.

Hoje se comemora em Portugal a Revolução dos Cravos, que restabeleceu a democracia e a esperança. Chico Buarque cantou lindamente aquele momento, enquanto o Brasil ainda esperava que chegasse a sua vez:

Já murcharam tua festa, pá, 
Mas certamente
Esqueceram uma semente 
Em algum canto de jardim

É bom nos lembrarmos disso agora. Mesmo nos piores tempos, sempre haverá uma semente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NO TÚMULO DO POETA RENÉ CREVEL (edu)

Um poema em prosa de EDUARDO MUYLAERT Da minha casa na avenue de Chatillon que hoje é a avenue Jean Moulin eu podia ter ido a pé em pouco tempo ao descuidado cemitério de Montrouge Acabei nunca indo procurar — na quadra dezenove o túmulo discreto de uma família burguesa singelo granito rosa onde repousam serenos os restos do inquieto poeta René Crevel Se não dou certo em nada me mato — tinha dito leal, cumpriu a promessa — só mais tarde acabou reconhecido cultuado pranteado como poeta e escritor surrealista A vida teve cheia de intempéries tinha ainda catorze anos quando a mãe que só fazia blasfemar contra o cadáver o arrastou para ver o pai dependurado Sem ilusões. Fazia amor com homens e mulheres vivia com a cruel tuberculose — a peste branca e tinha amigos em diversos sanatórios além do peito, doíam muito os rins e a vida Tinha uma amante argentina, —   Condessa Cuevas de Vera a quem deixou a última mensagem ...

Anything else I can help you with, ma´am? – parte 3

  ETEL FROTA Em Auckland, passo por debaixo do wharenui , o enorme portal da casa comunitária de encontros māori, de onde ressoa um delicado canto feminino de boas-vindas. A viagem foi dura, mas estou na Nova Zelândia, onde tudo sempre dá certo. Cara a cara com a senhora da imigração, já cheguei me justificando. Sorry, tinha tido problemas no preenchimento da NZeTA, primeiro, e depois na NETD. Fui depositando no balcão o celular aberto no formulário parcialmente preenchido, o certificado de vacinação impresso, o PCR negativo, passaporte. Muito ansiosa, esbarro nas palavras em meu inglês enferrujado pelo confinamento. [Aliás, tenho percebido que enferrujadas estão minhas habilidades de comunicação, mas isto não é assunto para agora.] Com um sorriso protocolar, ela sequer olhou para meu calhamaço.   Tranquilamente, me estendeu uma folha de papel, um xerox mal ajambrado, onde eu deveria marcar um xis declarando estar vacinada e outro confirmando ter tido um PCR negativo até ...

FAÇA-ME O FAVOR -- UMA ODE A PARASITAS E MACONHEIROS

- Por J. MARCELO ALVES O presidente dos EUA disse ter pedido a executivos da indústria farmacêutica: " Do me a favor, speed it up, speed it up " (façam-me um favor, acelerem, acelerem). Ele se referia ao desenvolvimento de uma vacina contra o SARS-CoV-2, o novo coronavírus responsável pela doença que está fazendo a festa pelo mundo, a Covid-19. Acontece que o desenvolvimento de drogas, e especialmente vacinas, não pode ser apressado tão facilmente; a vida não é filme de Hollywood. Não se está falando de fabricar um novo modelo de celular ou pneu de caminhão. As chamadas leis da natureza estão aí e não podem ser ignoradas. O editor-chefe da revista Science, uma das mais importantes do mundo há mais de 100 anos, explica bem ao presidente dele e a quem mais quiser ler em um ótimo editorial , então não vou me alongar mais nisso agora. Nos EUA, a ciência tem estado sob ataque nos últimos tempos. Lá, desmontaram partes do sistema de controle de pandemias e vêm cortando ...