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QUARENTENA, DE 10 A 19

- Por DANIELA MARTINS
25/3 - QUARENTENA, DIA 10. O presidente fez pronunciamento ontem e, na contramão de todos os outros países e das recomendações médicas, mandou isolar só os idosos e portadores de outras doenças. O restante da população deve voltar ao trabalho e às escolas. Ele afirmou que a Covid-19 é uma gripezinha que jamais o derrubaria, porque ele tem histórico de atleta. Faço questão de destacar essa frase. Mas o fato é que o desgoverno está empenhado em salvar a economia antes das vidas. No geral, não pegou bem. Algumas pessoas concordam e listam argumentos sobre os horrores de uma quebradeira econômica. Entendo, mas esta é uma questão moral, evitar ou aceitar mortes. Sejam lá quantas forem. Pela manhã, tudo permanecia fechado nas ruas. Seria um ato de desobediência civil? Afinal, o presidente mandou abrir. Se não abriu, será que ele ainda é presidente? Depois da República Velha e da República do Café com Leite, alguns falam hoje na República dos Governadores, pois são eles que estão tomando as rédeas e implementando as medidas de proteção às populações de seus estados. O país está rachando politicamente, como se já não bastasse estar enfrentando uma pandemia global. Pegar sol hoje me fez um bem danado. Quero produzir um podcast e conversei longamente com um amigo sobre isso. A quarentena também pode unir pessoas e estimular a criatividade. Li que os elefantes da Tailândia estão sem trabalho, porque o turismo parou. Ponto pro coronavírus, já passou da hora de sacar que não é pra andar em elefante, né?! O Prefeito do Rio diz que concorda com o presidente e que vai mandar abrir tudo. Virou uma guerra de poder. Enquanto assistimos às batalhas, só nos resta torcer para que o vírus não seja o vencedor. Se for mesmo definido o fim da quarentena, quero ver quem vai ter coragem de mandar os filhos pra escola com os casos de contaminação crescendo. É aí, quando a discussão política sai da teoria e invade a vida pessoal, que a porca torce o rabo.


26/3 - QUARENTENA, DIA 11. Pois eu dei de cara com o Paulo Guedes no calçadão do Leblon. Ele, o ministro que, no início desta semana, editou uma Medida Provisória que permitia o corte de salário dos trabalhadores por quatro meses. Questionado sobre a falta de uma contrapartida do governo e dos empresários, Guedes disse que isso deveria estar no texto, mas a equipe esqueceu de colocar. Essa parte da MP caiu, obviamente. Eu queria ter aproveitado o nosso encontro para recomendar a ele o velho ginko biloba, bom pros lapsos de memória, queria ter feito uma entrevista exclusiva ou sentado a mão na cara dele. Que atire a primeira pedra quem não está com os sentimentos todos surtados. Mas fiquei paralisada, com os pensamentos a mil, e tudo o que consegui foi sacar o celular e registrar o momento. Rendeu a minha estreia no fotojornalismo, na coluna da Sônia Racy (Estadão).


27/3 - QUARENTENA, DIA 12. No prédio ao lado, o vizinho resolveu treinar para ser DJ. Estamos confinados numa rave agora. O presidente acha bobagem fechar as casas lotéricas, porque o vírus não entraria pelos vidros blindados dos guichês. O debate público chegou neste nível. Almoçamos costelinha assada com mostarda e mel. Covardes saíram em carreata pelo fim da quarentena em São Paulo, a falta de senso crítico pode ser constrangedora. A guerra política aumenta e tira qualquer objetividade da linha de frente, o cenário vai ficando cada vez mais assustador. Aparece o primeiro vídeo da campanha que o governo federal pretende lançar: “O Brasil Não Pode Parar”. Custo: 5 milhões de reais. Enquanto isso, a Itália tem seu dia mais funesto, com quase mil mortes, e o prefeito de Milão admite publicamente que foi um erro ter insistido para que a cidade não parasse. O papa reza na praça deserta e envia a extrema unção a distância para os milhares de moribundos nos hospitais. Os EUA se tornam o país com o maior número de infectados, ultrapassando até mesmo a China. A evolução foi rápida e obrigou o presidente deles a mudar a rota do discurso de normalidade que vinha pregando. No Brasil, os números oficiais chegam a 92 mortes e 3.417 infectados.


28/3 - QUARENTENA, DIA 13. A praia deserta no sábado de sol é a imagem da desolação para um carioca. Temos hoje 114 mortos e quase quatro mil infectados nos país, de acordo com os números oficiais. Muitos dizem que os casos estão subnotificados. O mundo segue atônito e mais países adotam distanciamento social ou isolamento total a cada dia. Agora, temos Índia e Rússia em quarentena. Os telejornais são monotemáticos, naturalmente. E, a cada rodada de notícias sobre as medidas de socorro implementadas pelas mais diversas nações, parece que o mundo tá virando uma imensa social-democracia. Não sem a devida resistência de gente como o presidente do Banco do Brasil, que vociferou nesta semana que “a vida não tem valor infinito”. A campanha publicitária do governo que mandava o Brasil não parar foi vetada pela justiça. O vídeo saiu do ar e o governo afirma que a campanha nunca existiu. Tá assim agora: todo dia algum membro do governo é mal interpretado, caluniado pela imprensa ou esquece parte do texto de uma Medida Provisória importante. Coitados, é muita pressão... Nós, que temos uma casa segura, passamos o dia consumindo o acervo cultural da humanidade via internet. Os jornais anunciam que a epidemia chegou às favelas e periferias do Rio e de São Paulo. Nos preparamos para mostrar ao mundo a nossa mistura bem brasileira de coronavírus e exclusão social.


29/3 - QUARENTENA, DIA 14. Voltei para São Paulo. As horas de estrada vazia valeram por uns dois meses de terapia, revi minha vida inteira. De uns dois dias pra cá, vários amigos têm mandado mensagens, alguns que não vejo há mais de uma década, outros que ficaram em cidades onde não moro mais. É um movimento lindo esse das pessoas sentindo saudade daqueles que deixaram lembranças boas. Minha casa estava que era só pelo de dois gatos acumulados por uma semana. O jeito foi pegar o aspirador e cair pra dentro. Faxinão de quarentena. O presidente foi pra rua em Brasília e apertou as mãos de comerciantes. “Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Tomos nós iremos morrer um dia”, essas foram as palavras dele. Heterotopmachistaignorante, o único recurso que nosso mandatário consegue imaginar deve ser cobrir o vírus de porrada. Temos 136 mortos e 4.256 infectados no país. Já não consigo sentir nem vergonha, só desalento. Fiz uma bacia de pipoca pra comer enquanto vejo algum filme. Achei “O Poço” um amontoado de obviedades pouco instigantes, espero ter mais sorte na escolha de hoje. As crianças chegam amanhã da casa do pai, estou roxa de saudade de quarentenar com o meu trio!


30/3 - QUARENTENA, DIA 15. Meus filhos voltaram pra casa e eu fiz estrogonofe e bolo de baunilha, esta é a principal notícia do dia. Ontem, o presidente resolveu fazer posts sobre seu rolê alucinado pelo entorno de Brasília. O Twitter, o Facebook e o Instagram, deletaram as postagens por violarem os esforços mundiais para conter a disseminação do coronavírus e por terem potencial para causar danos reais às pessoas. É isso, temos um governante ridículo, que leva pito público de redes sociais. Nada poderia ser mais patético, parece aqueles garotos pré-adolescentes que vão pra secretaria da escola. Acontece que ele governa o país em meio a uma pandemia que custa vidas reais. Não é engraçado, é assustador. Fui ao mercado e tinha um segurança na porta controlando o número de pessoas que podiam entrar ao mesmo tempo. Precisei esperar a minha vez. Lá dentro, os produtos enlatados eram limitados a seis por pessoa. Aquela sensação de que a merda tá chegando e que vai ser grande... Muito difícil lidar com isso, com a incerteza, com a falta de controle, com o desamparo. Fui cheirar um desinfetante e espirrei. Vacilo meu... O corredor esvaziou completamente em questão de segundos. Foi horrível, achei que ia ser presa.


31/3 - QUARENTENA, DIA 16. Teve panelaço e buzinaço durante o pronunciamento do presidente hoje. No dia que contabilizou o maior número de mortes pelo coronavírus no país, 42 de ontem pra hoje, o genocida teve que baixar o tom e admitir que não é só uma gripe e que não existe remédio com eficiência comprovada até o momento. Também teve que fazer um movimento de reconciliação com os governos estaduais, com o Legislativo e com o Judiciário, porque se viu isolado em sua arrogância. Quando até Higienópolis bate panelas, é porque o trem saiu seriamente do trilho. Por aqui, acho que nove em cada dez votos foram para esse ignorante. Itália e Espanha tiveram novamente mais de 800 mortos por dia, numa sequência macabra e muito triste. Os EUA vêm logo atrás, com mais de 700 mortes em um único dia. O medo do contágio é muito mais palpável aqui em São Paulo do que no Rio, porque o número de casos é muito mais alto. Não me sinto segura nem para fazer uma caminhada sozinha. Um morador de rua com um filho ainda bebê me pediu leite em pó. A criança acenou um tchauzinho e abriu um sorriso lindo. É duro. O governo estima que ainda levará 16 dias para começar a pagar o auxílio financeiro para trabalhadores informais. É tempo demais, a fome não espera 16 dias. Ajude quem você puder, como você puder, sem pensar duas vezes. Uma amiga cardiologista desabafou sobre a situação já caótica nos hospitais e sobre a tensão de ver vários colegas médicos sendo contaminados e internados. Torço para que ela fique bem, nem consigo imaginar o tamanho da coragem de quem trabalha nos hospitais numa hora como essa. Apesar de tudo, hoje foi um dia produtivo. Projeto novo nascendo, cabeça fervilhando de ideias. Descobri que batata baroa em cubinhos assada com azeite, salsinha, sal e pimenta do reino fica uma delícia. Como é bom ter um forno, batata baroa e salsinha. Como é bom ter amigos que compartilham ideias e perspectivas de novos trabalhos, que se atrevem a pensar no futuro enquanto atravessamos a tempestade!


01/4 - QUARENTENA, DIA 17. Um dia sacal, para resumir. Percebi logo cedo que não ia conseguir me concentrar em nada. Autodiagnosticada com TDAH, já aprendi que não adianta brigar com essa onda. Quando ela vem, aceito, coloco uma playlist pra tocar e vou cozinhar. Enquanto eu fazia uma panela de camarão com chuchu e um crumble de maçã, mais 40 pessoas morreram no país de acordo com os números oficiais. Acompanhar notícias sobre pandemia full time pode fazer muito mal. Uns especialistas preveem até dois anos de quarentenas e reaberturas sucessivas enquanto não houver vacina ou remédio contra a Covid-19. Pensar nisso é completamente bizarro. O ditador do Turcomenistão proibiu o uso da palavra coronavírus. Diz que lá não tem e nem terá. Olha que Bolsonaro pode acabar chegando lá se permanecer muito tempo nessa fase de negação. Ele chamou vários médicos para uma reunião hoje, sem convidar o ministro da Saúde do seu próprio governo. Quer porque quer legitimar a tal da cloroquina como remédio eficaz. Deve ser difícil pra ele entender que não adianta atirar de 38 na cloroquina pra ela matar o vírus e acabar logo com essa epidemia inconveniente que tá atrapalhando o governo dele. Agora, deram de dizer que a economia tava decolando a olhos vistos antes do corona estragar tudo. Falam sem piscar e sem rir. Deve ser a coisa mais difícil do mundo bater um sério com o Paulo Guedes! Eu queria ter escrito um roteiro hoje, queria ter feito algum exercício. Precisava pagar contas, fazer uns telefonemas. Não rolou. Mas o camarão e o crumble ficaram ótimos. Bora esperar pelo dia de amanhã, porque agora é um dia de cada vez mesmo.
02/4 - QUARENTENA, DIA 18. Acordei determinada a ter um dia bem ativo. Como as crianças dormem até mais tarde, tenho aproveitado para tomar café da manhã sozinha, colocando os pensamentos em ordem, tendo um momento só meu com minhas torradas de pão italiano e manteiga. Eu gosto tanto delas que congelei 4 pães italianos, para o caso de termos que enfrentar um lockdown. Parti pra limpeza, porque os pelos dos gatos não dão trégua. Emendei num quibe com salada tabule, inspirada pelas maratonas da novela “O Clone” que tá passando no Viva. Nunca fui noveleira, mas essa é totalmente fora da caixinha, perfeita pro momento louco que estamos atravessando. Confira e me diga se não cai bem! As mortes aumentam, tivemos 58 nas últimas 24 horas. Consegui fazer a estrutura de roteiro que queria ter feito ontem. E ainda conversei com uma amiga de outra cidade que estava enfrentado desafios parecidos. Quando a gente faz o movimento de buscar o outro, de dividir as nossas questões, parece que as coisas destravam. Precisamos nos lembrar o tempo todo disso durante o isolamento. A filha de minha prima, pré-adolescente, fez uma festinha com os amigos via aplicativo. As crianças e jovens se adaptam de formas surpreendentes aos novos normais a que somos obrigados. Vejo a galera aqui de casa acompanhando lives, videoaulas e tarefas on-line que mudaram todo o esquema escolar em questão de semanas. Minha caçula teve educação física hoje e apareceu na sala toda suada. Minha professora de balé lá de Brasília me convidou para aulas via web. A quarentena acaba diminuindo distâncias que pareciam intransponíveis até o mês passado. Entendi que a cabeça precisa estar aberta, temos que pensar tudo diferente, aceitar que tudo vem de outras formas. Ficar pensando se é melhor ou pior é perda de tempo, não temos controle e nem escolha. Descobrimos, no meio de uma pandemia, que o mundo delegou à China 94% da produção de insumos hospitalares básicos como luvas e máscaras. Mão de obra barata. Agora, todos lutam por uma fatia desses materiais. Os EUA decidem mandar 23 aviões e comprar tudo primeiro. Há quem diga que o vírus veio para tornar a humanidade mais fraterna... A conferir.


03/4 - QUARENTENA, DIA 19. O aparelho de ginástica saiu magicamente de um armário do corredor. Mas só saiu mesmo, não foi usado. Como diz um meme do confinamento, “Estou tentando manter a minha rotina, montei uma academia aqui em casa e nunca fui”. Escrevi sobre os desafios do homeschooling pro blog, qualquer coisa que a gente consiga produzir no isolamento já é uma graça alcançada. Amanhã é sábado, mas isso não quer dizer mais nada. Na falta de variação dos dias, depois vai ser sébado, síbado, sóbado e súbado. Eu ando sonhando com um engarrafamento na Paulista, hora do rush, com aquele sentimento de vou me atrasar, caralho! Me ofereci um drink para relaxar a mente e me dei conta de que ainda era uma e meia da tarde. Bebi e relaxei assim mesmo, porque alguma vantagem o tal do home office tem de oferecer. Miguel, o bebê que vive nas ruas com o pai, no quarteirão seguinte ao meu prédio, precisava de fraldas hoje. Ele continua sorrindo e dando tchauzinho, alheio à pandemia e ao abandono em que veio ao mundo. Um amigo próximo piorou e precisou ser internado. Parece que o vírus tá esperando atrás da porta e tá pouco se lixando se você é do grupo de risco ou não. O secretário de Saúde do Rio admite que os casos notificados no estado devem ser apenas 10% do total. As meninas fizeram uma receita de espuma de café, gosto de vê-las na cozinha, fazendo algo além de assistir a videoaulas. Já o moleque, eu gostaria de ver frequentando mais assiduamente as classes virtuais. Cada um na sua pegada. Estabeleci as manhãs para os serviços domésticos e culinários. Depois eu almoço, tomo banho e passo rímel pra trabalhar. O rímel muda tudo, é fundamental. Eu não sou a pessoa mais vaidosa do mundo, mas tenho vício em passar rímel e fazer as unhas. Posso estar desgrenhada no mercado, louca no trabalho, mas as unhas estarão sempre cutiladas e pintadas. Pé e mão. Não tá rolando na quarentena. Colocar o foco nas pequenas dores sem importância pode ajudar muito, porque se a gente for realmente pensar nos problemas sérios... O presidente abre fogo contra seu próprio ministro da Saúde e perde aprovação da população. Mais 60 pessoas morrem no país. Amanhã eu começo a malhar, sem falta.

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