Pular para o conteúdo principal

QUARENTENA, DIA 33

Por DANIELA MARTINS

17/4 - QUARENTENA, DIA 33. Minha prima disse que a filha dela, de 11 anos, presa em casa há um mês sem nenhuma companhia da mesma idade, começa correr com os dois cachorros no meio do dia. Aqui em casa, os gatos inventaram um esporte: pular e puxar as roupas do varal. Em seguida, pegam cada peça e espalham pela casa. Tenho encarado como uma instalação artística.

Eu me achei muito rabugenta e fui perguntar aos amigos da área biomédica se deveria ter esperança nesse remédio secreto que o ministro-astronauta vai testar. Ganhei um não como resposta. A jornalista Mônica Bergamo fez a mesma pergunta e publicou hoje o mesmo não em sua coluna. Triste, terei que seguir sendo um smurf ranzinza e criticando as desinformações deste trágico governo.

Ontem, o novo ministro disse que saúde e economia não competem entre si.

Ninguém deseja quebrar o comércio e as indústrias, mas imaginemos os shoppings reabertos, os vendedores pegando transporte público, os clientes entrando e saindo das lojas. Como seria evitado o contágio generalizado? Como o sistema de saúde daria conta dos doentes todos ao mesmo tempo?

O isolamento é necessário para ganharmos tempo, para determos o avanço dos casos, para não saturarmos as UTIs. Ainda assim, o presidente reafirmou que o comércio deve ser reaberto, que sabe dos riscos e que um eventual agravamento pode cair no colo dele que ele segura.

Tá, ele se fode politicamente e nós morremos nos corredores de hospitais lotados. Excelente proposta, parece bem justa.

Um grupo de norte-americanos também fez um protesto pela reabertura do comércio, com direito a suásticas, armas e bandeiras. Dois dias depois, os EUA cravaram o traumático recorde de 4.591 mortes em 24 horas.

É de cair o cu da bunda ainda ver gente achando razoável o discurso de relaxar o isolamento. Vocês me desculpem a expressão, mas fica difícil encontrar palavras bonitas para descrever esse negacionismo burro e cego.

Aqui no Brasil, foram 217 mortes hoje.

Tento me manter produtiva, mas não tenho concentração para a leitura e não consigo fazer exercícios. Estabeleci uma meta de 15 páginas e 15 minutos, mas não estou confiante.

Fiz almôndegas recheadas com queijo, essas ficaram perfeitas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NO TÚMULO DO POETA RENÉ CREVEL (edu)

Um poema em prosa de EDUARDO MUYLAERT Da minha casa na avenue de Chatillon que hoje é a avenue Jean Moulin eu podia ter ido a pé em pouco tempo ao descuidado cemitério de Montrouge Acabei nunca indo procurar — na quadra dezenove o túmulo discreto de uma família burguesa singelo granito rosa onde repousam serenos os restos do inquieto poeta René Crevel Se não dou certo em nada me mato — tinha dito leal, cumpriu a promessa — só mais tarde acabou reconhecido cultuado pranteado como poeta e escritor surrealista A vida teve cheia de intempéries tinha ainda catorze anos quando a mãe que só fazia blasfemar contra o cadáver o arrastou para ver o pai dependurado Sem ilusões. Fazia amor com homens e mulheres vivia com a cruel tuberculose — a peste branca e tinha amigos em diversos sanatórios além do peito, doíam muito os rins e a vida Tinha uma amante argentina, —   Condessa Cuevas de Vera a quem deixou a última mensagem ...

Anything else I can help you with, ma´am? – parte 3

  ETEL FROTA Em Auckland, passo por debaixo do wharenui , o enorme portal da casa comunitária de encontros māori, de onde ressoa um delicado canto feminino de boas-vindas. A viagem foi dura, mas estou na Nova Zelândia, onde tudo sempre dá certo. Cara a cara com a senhora da imigração, já cheguei me justificando. Sorry, tinha tido problemas no preenchimento da NZeTA, primeiro, e depois na NETD. Fui depositando no balcão o celular aberto no formulário parcialmente preenchido, o certificado de vacinação impresso, o PCR negativo, passaporte. Muito ansiosa, esbarro nas palavras em meu inglês enferrujado pelo confinamento. [Aliás, tenho percebido que enferrujadas estão minhas habilidades de comunicação, mas isto não é assunto para agora.] Com um sorriso protocolar, ela sequer olhou para meu calhamaço.   Tranquilamente, me estendeu uma folha de papel, um xerox mal ajambrado, onde eu deveria marcar um xis declarando estar vacinada e outro confirmando ter tido um PCR negativo até ...

FAÇA-ME O FAVOR -- UMA ODE A PARASITAS E MACONHEIROS

- Por J. MARCELO ALVES O presidente dos EUA disse ter pedido a executivos da indústria farmacêutica: " Do me a favor, speed it up, speed it up " (façam-me um favor, acelerem, acelerem). Ele se referia ao desenvolvimento de uma vacina contra o SARS-CoV-2, o novo coronavírus responsável pela doença que está fazendo a festa pelo mundo, a Covid-19. Acontece que o desenvolvimento de drogas, e especialmente vacinas, não pode ser apressado tão facilmente; a vida não é filme de Hollywood. Não se está falando de fabricar um novo modelo de celular ou pneu de caminhão. As chamadas leis da natureza estão aí e não podem ser ignoradas. O editor-chefe da revista Science, uma das mais importantes do mundo há mais de 100 anos, explica bem ao presidente dele e a quem mais quiser ler em um ótimo editorial , então não vou me alongar mais nisso agora. Nos EUA, a ciência tem estado sob ataque nos últimos tempos. Lá, desmontaram partes do sistema de controle de pandemias e vêm cortando ...