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A MEXERICA BÚLGARA


- Por EDUARDO MUYLAERT
Fantasia narrativa de um domingo de quarentena

Houve um tempo em que a gente podia viajar e ver o mundo. Agora só nos restam lembranças e fantasias. Nunca vou esquecer da hospitalidade eslovena. A generosa acolhida apagou qualquer infortúnio do caminho. As decantadas surras do passado esmaeceram. Naveguei vagarosamente por águas eslavas. Escalei gostosamente certas elevações centro-europeias. Degustei longamente a mexerica búlgara. Não sei que língua falamos, mas fiz muitas vezes o caminho de Santiago que leva de Praga a Budapeste, idas e voltas, idas e vindas. No Castelo, fui Kafka, fui barata e fui processo. Ah, o Castelo.  Às vezes passava por Viena, deferência aos tabus do Dr. Freud. Na capital da Hungria me transformei em Robert Capa, o fotógrafo sedutor que deixou muitas mulheres chorando quando explodiu. Não, não morri, muitas e muitas vezes ressuscitei. Nem percebi quando acabaram minhas forças. Na manhã seguinte, não houve qualquer queixa, supremo requinte de fidalguia. É certo que, no fim da noite, apagou-se por completo minha bugia. Dormi e ronquei, sonhei que recuperava as forças, logo estaria na estrada de novo. Esse caminho não tem volta. Mas ainda há muitos lugares, países e continentes a explorar, tão logo acabe a pandemia.

Atenção: a tangerina (Citrus reticulata), também mexerica, laranja-mimosa, mandarina, fuxiqueira, poncã, manjerica, laranja-cravo, mimosa, bergamota, clementina, é uma fruta cítrica de cor alaranjada e sabor adocicado (fonte: Wikipedia)




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