- Por ETEL FROTA
Já foi obituário, hoje é receita culinária de um requinte para o
paladar em dias de quarentena. Compre um único limão -siciliano, por exemplo- e
tente a receita, de verdade. Ainda e sempre sob os auspícios de Luhli, eternamente bruxa, é claro.
O LIMÃO E A REZA
Valei, mãezinha do céu
pois já não sei mais rezar
ando bem desassistida
Meu coração anda ao léu
tá difícil de enfrentar
as agruras desta vida
É tanto amigo que morre
tanta farpa que me espeta
indecência que me enfeza
Calada, amargo meu porre
Mas sentada na sarjeta
lembro que existe outra reza
Um só é o ingrediente:
um limão verde, graúdo
vai pro freezer, bem lavado
Cortado, vai co´a semente
inteirinho, casca e tudo
Espero ficar congelado
Não tem erro, não tem nó
Preparo a minha comida
disponho tudo no prato
como um quadro de Miró:
delicinha colorida
com detalhes de um mosaico
Requintes de uma aquarela
fica mesmo muito belo
Sal rosa, pra entrar no clima
roxinhos da beringela
um fio de azeite amarelo
e ralo o limão por cima
Luhli foi quem me ensinou
antes de -tristeza e espanto!-
ir pras cozinhas do céu
[Com seus mil anos de grou
azul deve ser seu manto
de arco-íris seu véu]
Sua voz enrouquecida
e os temperos da canção:
rituais de comunhão
Todos os dias da vida
no gostinho do limão
pra Luhli, minha oração
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